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terça-feira, 20 de julho de 2021

 LABORUM META






                                                                                

                                                           O passado revela o futuro construído.

AMIN HADDAD

              

É de curial sabença que não herdamos destino, herdamos disposições genéticas. Não herdamos certeza, herdamos ciência e evolução. Contudo, seremos eternamente inseparáveis dos exemplos deixados pelos nossos imortais ancestres, colaterais e descendentes que contribuíram para ampliar e enriquecer nossas sendas e a sagas. Por isso, também nos tornaremos imortais.

  

O homem tem a sensação de que as coisas se repetem. O sábio provérbio “tudo já aconteceu” pode ser invertido para “nada aconteceu assim.

                                                                                  GUARDINI.


Ministrar meios para compreender a vida, a existência, a concepção do Ser Humano e a nossa própria ciência, são trabalhos às vezes, bastantes difíceis. Essa tarefa acompanha as teorias egípcias, gregas e as doutrinas mais antigas e complexas, vejamos: 

Os antigos egípcios (4.236 a.C.) representavam o ciclo da vida e da morte por quatro períodos do dia: antes do nascer do Sol, pelo meio-dia, pelo ocaso e pela meia-noite.  Segundo DUNCAN, (1999) 4.236 a.C., é a data mais antiga conhecida, sendo considerada a primeira data do calendário da história da humanidade tendo em vista ser a data da criação do calendário Egípcio com 365 ¼ dias.

Anaxágoras, filósofo grego (500-418 a.C.) 82 anos, formulou a teoria de que o corpo e o espírito eram duas entidades diversas. Mais tarde, os primeiros sofistas (professores da sabedoria e da habilidade, pensadores da Grécia antiga): Protágoras (485-410 a.C.) 75 anos, Górgias (485-380 a.C.) 105 anos, e Isócrates (436-338 a.C.) 98 anos, foram mais longe ao asseverar que a experiência era tudo, que a sabedoria do homem dependia de suas próprias observações e investigações e que não havia nenhuma verdade objetiva. 

 Platão, (427-347 a.C.) 80 anos, filósofo grego, chegou à conclusão de que as “ideias” do homem eram separadas de sua existência material. Num adulto, transformavam-se na psique, a alma racional, que lhe dava uma sabedoria intuitiva. Epicuro de Samos (341-270 a.C.) 71 anos, filósofo grego, e seus seguidores, formularam a teoria do livre-arbítrio e Zenão de Cicio (332-262 a.C.) 70 anos, filósofo grego, o estoico (aquele que é indiferente à dor, prazer, tristeza ou alegria), a de um indivíduo e sua alma eterna.

Segundo HADDAD, (2020) os estudos de religiões revelam que para o Judaísmo, Cristianismo e Islamismo, o espírito do Ser Humano está aqui na terra só de passagem, voltando à sua verdadeira morada eterna após a morte do corpo físico.

 

Então disse o Senhor: Não contenderá o meu Espírito para sempre com o homem; porque ele também é carne; porém os seus dias serão cento e vinte anos.

                                                                                Gênesis 6:3


Os dias da nossa vida chegam a setenta anos, e se alguns, pela sua robustez, chegam a oitenta anos, a medida deles é canseira e enfado, pois passa rapidamente e nós voamos.

 

                                                                           Salmos 90:10

     

 Para essas doutrinas, a morte do corpo físico não é um fim, mas um passaporte para destino desconhecido.

Segundo o Hinduísmo, o Budismo, o Espiritismo, as religiões iniciáticas dos Mistérios Egípcios e as filosofias Gregas, o Ser Humano tem algo a aprender nesse mundo.

De acordo com HADDAD, (2020) essas doutrinas, religiões, teorias e filosofias não explicam qual o objetivo da nossa passagem por esse mundo e nem por que essa passagem pode durar nove décadas, ou superar um século excepcionalmente para alguns, enquanto que outros só ficam poucos dias ou mesmo minutos nesse mundo.

FERREIRA e SILVA, (2012) esclarecem que no Renascimento (séc. XIV-XVII), a dicotomia teológica entre corpo e alma se intensificou. A Idade Moderna (séc. XV-XVIII) teve seu início, dentre outros fatores, com a contribuição do filosofo francês René Descartes (1596-1650) que viveu 54 anos.

Para DESCARTES, corpo físico e alma eram imiscíveis, eram substâncias distintas onde a segunda habitava o primeiro imbuindo-o de pensamento, isto era o que diferenciava os humanos dos animais. O corpo físico passa a ser vislumbrado como uma máquina. No entanto, o corpo-máquina do homem era superior ao dos animais por possuir o sopro espiritual que se manifestava através do pensar, transcendendo a lógica natural e elevando o homem à categoria daquele capacitado a dominar o mundo.

Descartes aludia ao corpo físico como a res extensa, a substância presentificada no mundo material, durável e findável, e à alma como res cogitans, dotada da capacidade de pensar e, por isso, em conectividade com o divino. Para ele, a supremacia da alma era tal que essa poderia existir sem o corpo:

[...] de um lado tenho uma ideia clara e distinta de mim mesmo, na medida em que sou apenas uma coisa que pensa e não extensa, e que, do outro, tenho uma ideia distinta do corpo, na medida em que ele é apenas uma coisa extensa e que não pensa, é certo que esse eu, ou seja, a minha alma, pela qual sou o que sou, é inteira e verdadeiramente distinta de meu corpo e pode ser ou existir sem ele. (Descartes apud MURTA, 2006: p. 57).

Outro ponto relevante é a observação, por Descarte, da interioridade da coisa pensante (alma) em oposição ao exterior (corpo físico, objeto). Aparece, então, a relação dialética entre o observador dominante em relação ao mundo já que o cogitatio o pertence, sendo capaz de explicar os acontecimentos mundanos por métodos (caminhos sistematizados); e o objeto como matéria de análise presente nos acontecimentos do mundo. Eles [os métodos] “tornam-se instrumentos que ajudam a representar as coisas de modo adequado, ajudam a controlar cada um dos passos dados e permitem deduzir algo desconhecido de algo conhecido”. Nesse período se desenvolve o materialismo experimental em que tudo teria que ser testado e demonstrado por meios eficazes. Por esse viés, os processos corporais podem ser reduzidos e explicados à maneira dos processos que ocorrem nas máquinas, sendo, portanto, sinônimo de extensão mecanicista submetida ao pensamento puro. (CARDIM, 2009. Apud FERREIRA, SILVA, 2012).

Descartes deixa claro a heterogeneidade entre as substâncias res extensa (corpo físico) e res cogitans (alma). No entanto, a forma como essa união se estabelecia não estava clara. Mas, uma coisa era sabida, essa conexão se estabelecia por um equivalente de importância e até de permanência. A psyké se sobrepunha ao corpo físico e, portanto, aos sentidos que, por sua vez, não necessitavam das experiências para se constituir como tal, podendo até existir sem o corpo físico. 

O corpo físico, por sua vez, era um atributo secundário da permanência do Homem, concebido por uma substancialização transitória e impermanente em relação à alma, que era seu oposto.  (CARDIM, 2009. Apud FERREIRA, SILVA, 2012). HADDAD, (2020) esclarece que o corpo físico na anatomia humana é formado pelo esqueleto axial e apendicular, por milhares de células, tecidos, órgãos e sistemas.

KANT, (1724-1804) que viveu 80 anos, trouxe um novo olhar sobre a substancialização da alma e do corpo físico, tirando eles deste lugar e colocando-os na categoria de fenômenos.

Para Kant, o corpo físico deixa de ser apenas arcabouço e toma lugar nas manifestações do mundo, se constitui como acontecimento e como tal sua visão hermética torna-se porosa, é um corpo de relatos (experiência). O racionalismo sede lugar a visão empirista, concepção essa que fundamenta nosso conhecimento ou o material com o qual ele é construído, na experiência através dos cinco sentidos (HONDERICH, 1995: p. 225 apud FERREIRA, SILVA, 2012).

Ao remate, a imortalidade se concretiza nos exemplos deixados na memória e nos atos de nossos ancestres, independentemente das substâncias res extensa (corpo físico) e res cogitans (alma), da sucessão dos anos, dos dias e das horas, no nosso passado, na nossa história, no nosso hoje e em nossa crença religiosa, o que simboliza a cultura dos nossos imortais.  

No momento da morte nós nos libertamos para nos tornarmos eternamente livres!

Permaneceremos imortais após a morte física através da libertação merecida pela nobre contribuição que deixamos para as futuras gerações.

 


Durante a nossa vida conhecemos pessoas que vêm e que ficam. Outras que vêm e passam. Existem aquelas que, vêm, ficam e depois de algum tempo se vão. Mas existem aquelas que vêm e se vão com uma enorme vontade de ficar...

                                                                CHARLES CHAPLIN


Somos a ciência evoluída dos nossos imortais, grupo que sobreviveu maravilhosamente não porque se esforçou por alcançar êxitos, mas por causa de suas sabedorias e imensas reservas de fortaleza e resistência. Esse grupo fez o que somos e nos situou até a distância em que estamos.

O nosso tempo é computado pelo relógio da eternidade que mede o ritmo do desenvolvimento humano. Tudo que fazemos, pensamos e criamos baseia-se no vasto alicerce dos nossos ancestres. Gerações após gerações de nossos imortais marcharam ao longo da infinita estrada da experiência humana através da imagem móvel da eternidade. Talvez, pretendessem parar para recomeçar, observar e melhor compreender a experienciação, contudo, a estrada exigia mais experiência para essa simples marcha. Toda história passada foi uma vez presente e toda história presente está construída no passado. (LISSNER, 1968).

 Um poema de quatro mil anos, faz alusão ao caráter efêmero e à fragilidade da existência.

 


“Ninguém voltou para dizer qual era a sua sorte...Goza da vida. Não deixes a tristeza estragar-te a vida. Vê! Ninguém leva o que possui e nenhum dos que já foram jamais voltou”.


 NIETZSCHE, (1844-1900) filósofo alemão que viveu 55 anos, considerou que cada vez mais numerosos são os que pensam, talvez com razão, que o corpo físico é apenas uma “casa” que recebe um “hóspede” e que a vida está fundamentada na hipótese de uma crença em algo durável e findável e que o homem projeta, de alguma forma, fora de si, seu instinto de verdade, seu “alvo” para construir o mundo “que é”, o mundo metafísico, a “coisa em si”, o mundo de antemão existente.

          Para Nietzsche, os físicos creem num “mundo-verdade” constituído a seu modo: um sistema fixo de átomos, igual para todos os seres, agitado em movimentos necessários- de forma que o “mundo-aparência para eles, se reduz à parcela do ser universal e universalmente necessário, que é acessível para cada ente a seu modo.

   A recompensa final dos mortos é não morrer nunca mais!

                                                                                                                                 NIETZSCHE


     Este livro é uma homenagem à substancialização transitória e impermanente, a substância presentificada durável e findável no mundo material, ou a vida e existência de todos imortais ascendentes, descendentes e afins, incorporando alto nível de informações, ilustrações e referências notavelmente selecionadas, que, por si sós, são revelações do futuro construído no passado por nossos imortais. 

Agradecemos a todos nossos imortais que nos precederam desde os contemporâneos aos mais longínquos.

         Agradecemos também a todos os demais colaboradores que não tiveram seus nomes mencionados e cujas contribuições estão aqui presentes.

         

MUITOS MÉRITOS PARA TODOS!


      Amin Haddad                                        Giselle Haddad



REFERÊNCIAS

 

BIBLIA Online Versão Almeida Revista e Atualizada.

CARDIM, L.N. Corpo. São Paulo: Globo, 2009 (Col. Filosofia frente e verso). (Apud FERREIRA, SILVA, 2012).

CHARLES CHAPLIN. Coleção Homens que mudaram a história 2. CT ed. São Paulo-SP.

DUNCAN, David Ewing. Calendário: Tradução João Domenech. Rio de Janeiro-RJ. Ediouro,1999.

FERREIRA, Alexandre; SILVA, Eusébio Lobo da. Sobre o Corpo: Uma Trajetória da Physis ao Corpo Poético. Disponível em: Vista do 08. Sobre o Corpo: Uma trajetória da Physis ao corpo ...http://www.seer.unirio.br › index.php › article › view 2012.

GUARDINI Romano. A aceitação de si mesmo. As idades da Vida, Editora Palas Athena. São Paulo-SP,2003. págs. 84 e 85.

HADDAD, Raimundo Amin Lima. Busca na Bíblia. Belo Horizonte MG. Ed. Print. Digital.2020.

HADDAD, Amin Jonas & Luiz. Família Menezes de Lima no Amazonas. Belo Horizonte MG Ed. Print. Digital. 2018.

HADDAD, Amin & Giselle. Haddad e Karam no Amazonas e no Mundo. Belo Horizonte MG. Ed. Print. Digital. 2019.

HONDERICH, T.  Ed. The Oxford Companion to Philosofy. Oxford: Oxford University Press, 1995. (Apud FERREIRA, SILVA, 2012).

LISSNER, Ivar. Assim Viviam Nossos Antepassados. Tradução por Oscar Mendes. Belo Horizonte MG. Ed. Itatiaia Limitada. 5ª edição. 1968.

MURTA, C. O amor entre a filosofia e a psicanálise. Revista do Departamento de Psicologia da Universidade Federal Fluminense, V. 18, N. 1, 2006, p. 57-70. (Apud FERREIRA, SILVA, 2012).

NIETZSCHE, F. A Gaia Ciência Tradução, de Paulo César de Souza.                São Paulo. Companhia de Bolso.

NIETZSCHE, F. Vontade de Potência, p.245 e 262 Tradução, Prefácio e Notas de Mário D. Ferreira Santos.                São Paulo; Ed. Escala. Coleção Mestres Pensadores.

YALON, Irvin D. Quando Nietzsche Chorou. Tradução de Ivo Korytowski. p.100 e 101. Rio de Janeiro-RJ. Ediouro.2005 

 

 

 

 


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