LABORUM META
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AMIN HADDAD
É de curial sabença que não
herdamos destino, herdamos disposições genéticas. Não herdamos certeza,
herdamos ciência e evolução. Contudo, seremos eternamente inseparáveis dos
exemplos deixados pelos nossos imortais ancestres, colaterais e descendentes que
contribuíram para ampliar e enriquecer nossas sendas e a sagas. Por isso,
também nos tornaremos imortais.
O homem tem a sensação de
que as coisas se repetem. O sábio provérbio “tudo já aconteceu” pode ser
invertido para “nada aconteceu assim.”
GUARDINI.
Ministrar meios para compreender a vida, a existência, a concepção do
Ser Humano e a nossa própria ciência, são trabalhos às vezes, bastantes
difíceis. Essa tarefa acompanha as teorias egípcias, gregas e as doutrinas mais
antigas e complexas, vejamos:
Os antigos egípcios (4.236 a.C.) representavam o ciclo da vida e da
morte por quatro períodos do dia: antes do nascer do Sol, pelo meio-dia, pelo
ocaso e pela meia-noite. Segundo DUNCAN, (1999) 4.236 a.C., é a data mais
antiga conhecida, sendo considerada a primeira data do calendário da história
da humanidade tendo em vista ser a data da criação do calendário Egípcio com
365 ¼ dias.
Anaxágoras, filósofo
grego (500-418 a.C.) 82 anos, formulou a teoria de que o corpo e o
espírito eram duas entidades diversas. Mais tarde, os primeiros sofistas
(professores da sabedoria e da habilidade, pensadores da Grécia antiga):
Protágoras (485-410 a.C.) 75 anos, Górgias (485-380
a.C.) 105 anos, e Isócrates (436-338 a.C.) 98 anos, foram mais
longe ao asseverar que a experiência era tudo, que a sabedoria do homem
dependia de suas próprias observações e investigações e que não havia nenhuma
verdade objetiva.
Platão, (427-347 a.C.) 80 anos, filósofo grego, chegou à conclusão de que as “ideias” do homem eram separadas de sua existência material. Num adulto, transformavam-se na psique, a alma racional, que lhe dava uma sabedoria intuitiva. Epicuro de Samos (341-270 a.C.) 71 anos, filósofo grego, e seus seguidores, formularam a teoria do livre-arbítrio e Zenão de Cicio (332-262 a.C.) 70 anos, filósofo grego, o estoico (aquele que é indiferente à dor, prazer, tristeza ou alegria), a de um indivíduo e sua alma eterna.
Segundo HADDAD,
(2020) os estudos de religiões revelam que para o Judaísmo, Cristianismo e
Islamismo, o espírito do Ser Humano está aqui na terra só de passagem, voltando
à sua verdadeira morada eterna após a morte do corpo físico.
Então
disse o Senhor: Não contenderá o meu Espírito para sempre com o homem; porque
ele também é carne; porém os seus dias serão cento e vinte anos.
Os
dias da nossa vida chegam a setenta anos, e se alguns, pela sua robustez, chegam a
oitenta anos, a medida deles é canseira e enfado, pois passa rapidamente e nós
voamos.
Para essas doutrinas, a morte do corpo físico não é um fim, mas um passaporte para destino desconhecido.
Segundo o Hinduísmo, o Budismo, o Espiritismo, as religiões iniciáticas
dos Mistérios Egípcios e as filosofias Gregas, o Ser Humano tem algo a aprender
nesse mundo.
De acordo com HADDAD, (2020) essas doutrinas, religiões, teorias e filosofias não explicam qual
o objetivo da nossa passagem por esse mundo e nem por que essa passagem pode
durar nove décadas, ou superar um século excepcionalmente para alguns, enquanto
que outros só ficam poucos dias ou mesmo minutos nesse mundo.
FERREIRA e SILVA, (2012) esclarecem que no
Renascimento (séc. XIV-XVII), a dicotomia teológica entre corpo e alma se
intensificou. A Idade Moderna (séc. XV-XVIII) teve seu início, dentre outros
fatores, com a contribuição do filosofo francês René Descartes (1596-1650) que
viveu 54 anos.
Para DESCARTES, corpo físico e alma eram imiscíveis, eram
substâncias distintas onde a segunda habitava o primeiro imbuindo-o de
pensamento, isto era o que diferenciava os humanos dos animais. O corpo físico
passa a ser vislumbrado como uma máquina. No entanto, o corpo-máquina do homem
era superior ao dos animais por possuir o sopro espiritual que se manifestava
através do pensar, transcendendo a lógica natural e elevando o homem à
categoria daquele capacitado a dominar o mundo.
Descartes aludia ao corpo físico como a res extensa, a substância
presentificada no mundo material, durável e findável, e à alma como res
cogitans, dotada da capacidade de pensar e, por isso, em conectividade com o
divino. Para ele, a supremacia da alma era tal que essa poderia existir sem o
corpo:
[...] de um lado tenho uma ideia clara e distinta de mim mesmo, na
medida em que sou apenas uma coisa que pensa e não extensa, e que, do outro,
tenho uma ideia distinta do corpo, na medida em que ele é apenas uma coisa
extensa e que não pensa, é certo que esse eu, ou seja, a minha alma, pela qual
sou o que sou, é inteira e verdadeiramente distinta de meu corpo e pode ser ou
existir sem ele. (Descartes apud MURTA, 2006: p. 57).
Outro ponto relevante é a observação, por Descarte, da interioridade da
coisa pensante (alma) em oposição ao exterior (corpo físico, objeto). Aparece,
então, a relação dialética entre o observador dominante em relação ao mundo já
que o cogitatio o pertence, sendo capaz de explicar os acontecimentos mundanos
por métodos (caminhos sistematizados); e o objeto como matéria de análise
presente nos acontecimentos do mundo. Eles [os métodos] “tornam-se instrumentos
que ajudam a representar as coisas de modo adequado, ajudam a controlar cada um
dos passos dados e permitem deduzir algo desconhecido de algo conhecido”. Nesse
período se desenvolve o materialismo experimental em que tudo teria que ser
testado e demonstrado por meios eficazes. Por esse viés, os processos corporais
podem ser reduzidos e explicados à maneira dos processos que ocorrem nas
máquinas, sendo, portanto, sinônimo de extensão mecanicista submetida ao
pensamento puro. (CARDIM, 2009. Apud FERREIRA, SILVA, 2012).
Descartes deixa claro a heterogeneidade entre as substâncias res extensa
(corpo físico) e res cogitans (alma). No entanto, a forma como essa união se
estabelecia não estava clara. Mas, uma coisa era sabida, essa conexão se
estabelecia por um equivalente de importância e até de permanência. A psyké se
sobrepunha ao corpo físico e, portanto, aos sentidos que, por sua vez, não
necessitavam das experiências para se constituir como tal, podendo até existir
sem o corpo físico.
O corpo físico, por sua vez, era um atributo secundário da permanência
do Homem, concebido por uma substancialização transitória e impermanente em
relação à alma, que era seu oposto. (CARDIM, 2009. Apud FERREIRA, SILVA,
2012). HADDAD, (2020) esclarece que o corpo físico na anatomia humana é
formado pelo esqueleto axial e apendicular, por milhares de células,
tecidos, órgãos e sistemas.
KANT, (1724-1804) que viveu 80 anos,
trouxe um novo olhar sobre a substancialização da alma e do corpo físico,
tirando eles deste lugar e colocando-os na categoria de fenômenos.
Para Kant, o corpo físico deixa de ser apenas arcabouço e toma lugar nas
manifestações do mundo, se constitui como acontecimento e como tal sua visão
hermética torna-se porosa, é um corpo de relatos (experiência). O racionalismo
sede lugar a visão empirista, concepção essa que fundamenta nosso conhecimento
ou o material com o qual ele é construído, na experiência através dos cinco
sentidos (HONDERICH, 1995: p. 225 apud FERREIRA, SILVA,
2012).
Ao remate, a imortalidade se concretiza nos exemplos deixados na memória
e nos atos de nossos ancestres, independentemente das substâncias res extensa
(corpo físico) e res cogitans (alma), da sucessão dos anos, dos dias e das
horas, no nosso passado, na nossa história, no nosso hoje e em nossa crença
religiosa, o que simboliza a cultura dos nossos imortais.
No momento da morte nós nos libertamos para nos tornarmos eternamente
livres!
Permaneceremos imortais após a morte física através da libertação
merecida pela nobre contribuição que deixamos para as futuras gerações.
Durante a nossa vida conhecemos pessoas que vêm e que ficam.
Outras que vêm e passam. Existem aquelas que, vêm, ficam e depois de
algum tempo se vão. Mas existem aquelas que vêm e se vão com uma enorme vontade
de ficar...
CHARLES CHAPLIN
Somos a ciência evoluída dos nossos imortais, grupo que sobreviveu
maravilhosamente não porque se esforçou por alcançar êxitos, mas por causa de
suas sabedorias e imensas reservas de fortaleza e resistência. Esse grupo fez o
que somos e nos situou até a distância em que estamos.
O nosso tempo é computado pelo relógio da eternidade que mede o ritmo do
desenvolvimento humano. Tudo que fazemos, pensamos e criamos baseia-se no vasto
alicerce dos nossos ancestres. Gerações após gerações de nossos
imortais marcharam ao longo da infinita estrada da experiência humana através
da imagem móvel da eternidade. Talvez, pretendessem parar para
recomeçar, observar e melhor compreender a experienciação, contudo, a estrada
exigia mais experiência para essa simples marcha. Toda história passada foi uma vez presente e toda história presente está
construída no passado. (LISSNER, 1968).
Um poema de quatro mil anos, faz alusão ao caráter efêmero e à fragilidade da existência.
“Ninguém voltou para dizer qual era a sua sorte...Goza da vida. Não
deixes a tristeza estragar-te a vida. Vê! Ninguém leva o que possui e nenhum
dos que já foram jamais voltou”.
NIETZSCHE, (1844-1900) filósofo alemão que viveu
55 anos, considerou que cada vez mais numerosos são os que pensam, talvez com
razão, que o corpo físico é apenas uma “casa” que recebe um “hóspede” e que a
vida está fundamentada na hipótese de uma crença em algo durável e findável e
que o homem projeta, de alguma forma, fora de si, seu instinto de verdade, seu
“alvo” para construir o mundo “que é”, o mundo metafísico, a “coisa em si”, o
mundo de antemão existente.
Para Nietzsche,
os físicos creem num “mundo-verdade” constituído a seu modo: um sistema fixo de
átomos, igual para todos os seres, agitado em movimentos necessários- de forma
que o “mundo-aparência para eles, se reduz à parcela do ser universal e
universalmente necessário, que é acessível para cada ente a seu modo.
A recompensa final dos mortos é não morrer nunca mais!
NIETZSCHE
Este livro é uma homenagem à substancialização transitória e impermanente, a substância presentificada durável e findável no mundo material, ou a vida e existência de todos imortais ascendentes, descendentes e afins, incorporando alto nível de informações, ilustrações e referências notavelmente selecionadas, que, por si sós, são revelações do futuro construído no passado por nossos imortais.
Agradecemos a todos
nossos imortais que nos precederam desde os contemporâneos aos mais longínquos.
Agradecemos também a todos os demais colaboradores que não tiveram seus nomes
mencionados e cujas contribuições estão aqui presentes.
MUITOS
MÉRITOS PARA TODOS!
Amin Haddad Giselle
Haddad
REFERÊNCIAS
BIBLIA Online Versão
Almeida Revista e Atualizada.
CARDIM, L.N. Corpo. São Paulo: Globo, 2009
(Col. Filosofia frente e verso). (Apud FERREIRA, SILVA, 2012).
CHARLES CHAPLIN. Coleção
Homens que mudaram a história 2. CT ed. São Paulo-SP.
DUNCAN, David Ewing. Calendário: Tradução João Domenech. Rio de Janeiro-RJ. Ediouro,1999.
FERREIRA, Alexandre; SILVA,
Eusébio Lobo da. Sobre o Corpo: Uma Trajetória da Physis ao Corpo Poético.
Disponível em: Vista do 08.
Sobre o Corpo: Uma trajetória da Physis ao corpo ...http://www.seer.unirio.br ›
index.php › article › view 2012.
GUARDINI Romano. A
aceitação de si mesmo. As idades da Vida, Editora Palas Athena. São
Paulo-SP,2003. págs. 84 e 85.
HADDAD, Raimundo Amin
Lima. Busca na Bíblia. Belo Horizonte MG. Ed. Print. Digital.2020.
HADDAD, Amin Jonas
& Luiz. Família Menezes de Lima no Amazonas. Belo Horizonte MG Ed. Print. Digital. 2018.
HADDAD, Amin & Giselle. Haddad e Karam no Amazonas e no Mundo. Belo Horizonte MG. Ed. Print. Digital. 2019.
HONDERICH, T.
Ed. The Oxford Companion to Philosofy. Oxford: Oxford University Press,
1995. (Apud FERREIRA, SILVA, 2012).
LISSNER, Ivar. Assim
Viviam Nossos Antepassados. Tradução por Oscar Mendes. Belo Horizonte MG. Ed.
Itatiaia Limitada. 5ª edição. 1968.
MURTA, C. O amor entre a filosofia e a
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V. 18, N. 1, 2006, p. 57-70. (Apud FERREIRA, SILVA, 2012).
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YALON, Irvin D. Quando
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Ediouro.2005